sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

A Balada de Neve de Augusto Gil

Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho…

Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria…
. Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho…

Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança…

E descalcinhos, doridos…
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!…

Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!…
Porque padecem assim?!…

E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
e cai no meu coração.

Augusto Gil

4 comentários:

  1. É muito interessante vermos os nossos filhos a aprender os textos que aprendemos na nossa infância :-)

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  2. Ora aqui está o texto que tem estado presente nos nossos últimos serões cá em casa!:)

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  3. Na nossa também! Eu adorei relembrá-la com o Tiago, e depois, com o meu Pai, ver a cara de espanto do neto ao perceber que o avô a sabia toda inteirinha e de cor :)

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  4. Lá em casa foi igual. Foi maravilhoso ver a cara de espanto da Madalena quando a mãe e avó se juntaram a ela a dizer o poema!
    Uma delicia!

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